Séculos vêm e vão. Povos florescem, alcançam seu apogeu, envelhecem e desaparecem. Mas existência de Israel é um fenômeno singular, racionalmente incompreensível, uma prova da existência de Deus. Ao longo de quase seis mil anos de história, esse povo não foi atingido pela lei da mortalidade dos povos. Israel teve a sua origem nos patriarcas Abraão, Isaque, Jacó e José, que se estabelecem inicialmente em Canaã — hoje, Palestina — e, depois, emigraram ao Egito por causa da fome.
No século XIII a.C., ocorreu o Êxodo, quando os israelitas deixaram o Egito sob a liderança de Moisés. E, durante 40 anos, o povo de Israel vagou pelo deserto, onde recebeu de Deus a Torah, entregue a Moisés no Monte Sinai (Êx 18.20ss). Entre os séculos XIII e XII a.C., os israelitas voltaram à Palestina e, por volta do ano 1040 a.C., teve início a monarquia judaica tendo Saul como seu primeiro rei. No ano 1000, Jerusalém se tornou a capital do reinado de David, e o Primeiro Templo, centro nacional e espiritual do povo judeu, foi construído pelo rei Salomão (960).
Em 930 a.C., aproximadamente, o Reino de Israel se dividiu, ficando o de Judá ao Sul (capital Jerusalém), e o de Israel, ao Norte (capital Samaria). Entre 722 e 720, o Reino do Norte foi destruído pela Assíria, e as dez tribos israelitas que formavam aquele reino foram espalhadas pelo mundo. Em 586, o Reino do Sul foi conquistado pela Babilônia, e Jerusalém, com o Primeiro Templo, foram destruídos. A maioria dos judeus (duas tribos restantes) foi exilada. Mas, no período de 538 a 515, muitos judeus retornam da Babilônia e reconstruíram o Templo.
Em 332 a.C., Alexandre, o Grande, conquistou a Terra de Israel e estabeleceu o domínio helenístico. Entre 166-160, ocorreu a revolta dos Macabeus (Hasmoneus) contra as restrições à prática do judaísmo e a profanação do Templo. Nos anos de 142 a 129, sob a liderança dos Hasmoneus, deu-se a autononia judaica. E, entre 129 e 63, proclamou-se a independência judaica sob a monarquia dos Hasmoneus. Mas, em 63, Jerusalém foi tomada pelo general romano Pompeu, dando início ao domínio romano. No período de 63 a 4 a.C., o rei Herodes governou a Terra de Israel e reformou o Templo.
Por volta de 30 a 33 d.C., deu-se o Ministério de Jesus de Nazaré. Em 66, ocorreu a revolta dos judeus contra Roma. E, no ano 70, ocorreu a destruição de Jerusalém e do Segundo Templo. A partir de então, os judeus (sem território próprio) passaram a sofrer terríveis perseguições. Em 73, deu-se o último bastião judeu em Massada. E, em 132-135, ocorreu a revolta de Bar Kochba contra os romanos. Ainda durante o domínio romano, em 210, foi concluída a codificação da Lei Oral judaica (Mishná). Israel ficou sob o domínio bizantino a partir de 313, que perduraria até 636.
O comentário da Mishná (Talmud de Jerusalém) foi concluído em 390 d.C. Em 614, ocorreu a invasão persa. Israel ficou sob domínio árabe de 639 a 1099 e, em 691, o Domo da Rocha foi construído em Jerusalém, no local do Templo, pelo Califa Abdel-Malik. Depois disso, Israel ficou sob domínio cruzado (Reino Latino de Jerusalém) de 1099 a 1291; sob domínio mameluco entre 1291 e 1516; e sob domínio otomano de 1517 a 1917. Na Idade Média, os judeus foram queimados aos milhares em praça pública pela Igreja Romana, sob o domínio do inquisidor Torquemada.
Em 1564, foi publicada a codificação da lei judaica (Shulchan Aruch). Em 1860, foi construído o primeiro bairro fora dos muros de Jerusalém. Em 1897, ocorreu o Primeiro Congresso Sionista, reunido por Teodoro Herzl em Basileia, Suíça, e a fundação da Organização Sionista. Em 1909, surgiu o primeiro kibutz e foi fundada a cidade de Tel Aviv, moderna e completamente judia. Em 1917, findaram os 400 anos de domínio otomano com a conquista britânica, e Lord Balfour, ministro de Relações Exteriores britânico, declarou apoio ao estabelecimento de “um lar nacional judaico na Palestina”.
Israel ficou sob domínio da Grã-Bretanha de 1918 a 1948. Em 1920, foi fundada a Histadrut (Federação Geral do Trabalho) e a Haganá (organização de defesa judaica). Em 1922, a Liga das Nações confiou à Grã-Bretanha o Mandato sobre a Palestina; três quartos da área foram entregues à Transjordânia, ficando apenas um quarto para o lar nacional judaico. Em 1924, foi fundado o Technion, primeiro instituto de tecnologia israelense. A Universidade Hebraica de Jerusalém foi estabelecida, em 1925, no Monte Scopus. Quatro anos depois, ocorreu um massacre dos judeus em Hebron por militantes árabes. Entre 1936 e 1939 aconteceram distúrbios antijudaicos instigados por militantes árabes. E o Livro Branco britânico limitou drasticamente a imigração judaica.
Entre 1939 e 1945, ocorreu a II Guerra Mundial. Mais de seis milhões de judeus foram brutalmente assassinados nesse período. A perseguição sangrenta a Israel só começaria a diminuir no fim de 1944. Neste ano, deu-se a formação da Brigada Judaica, como parte das forças britânicas. Em 1947, a Organização das Nações Unidas (ONU) propôs o estabelecimento dos Estados árabe e judeu na Palestina. E, em 14 de maio de 1948, com o término do Mandato Britânico, foi proclamado o Estado de Israel. Desde então, Israel vem lutando contra seus inimigos e colecionando muitas vitórias, tornando-se uma grande potência mundial.
Logo após a proclamação do Estado de Israel, os exércitos de Egito, Jordânia, Síria, Líbano e Iraque invadiram aquele país, dando início à Guerra da Independência. Recém-formadas e pobremente equipadas, as Forças de Defesa de Israel (FDI) conquistaram uma expressiva vitória depois de quinze meses de combate. Os israelenses, então, concentraram seus esforços na construção do seu Estado. David Ben Gurion foi eleito primeiro-ministro, e Jaim Neizmann, presidente.
Em 1949, Israel se tornou o 59o. membro das Nações Unidas, o que aumentou a fúria de seus inimigos, os quais até hoje insistem em não reconhecer a legitimidade do Estado de Israel. Em 1956, sofrendo ameaças de Egito, Síria e Jordânia, Israel tomou a Faixa de Gaza e a Península do Sinai. Nesse mesmo ano, de comum acordo com a ONU, começou a devolver as terras conquistadas. Essa atitude lhe proporcionou algumas vantagens, como: a liberdade para navegar no Golfo de Eliat e a permissão para importar petróleo do Golfo Pérsico. Quando a paz parecia consolidada, irrompeu, em 1967, a Guerra dos Seis Dias. O Egito novamente, deslocando um grande número de tropas para o deserto do Sinai, ordenou que as forças de manutenção de paz da ONU se retirassem da área.
Entretanto, mesmo com a ajuda militar de Jordânia e Síria, os egípcios sofreram outra humilhante derrota. Invocando o seu direito de defesa, Israel desencadeou um ataque preventivo contra o Egito, no sul, seguido por um contra-ataque à Jordânia, no leste. Expulsou, ainda, as forças sírias entrincheiradas no Planalto de Golan, ao norte. E, em apenas seis dias, Israel conquistou a Judéia, a Samaria, Gaza, a Península do Sinai e o Planalto de Golan. Em 1973, depois de anos de relativa calma, ocorreu a Guerra de Yom Kipur (Dia da Expiação, dia mais sagrado do calendário judaico). Egito e Síria atacaram Israel, dessa vez de surpresa. O exército egípcio atravessou o Canal de Suez, e as tropas sírias invadiram o Planalto de Golan.
Em três semanas, os ataques foram repelidos de forma milagrosa. Havia, nas Colinas de Golan, 180 tanques israelenses para enfrentar 1.400 tanques sírios! No Canal de Suez, havia quinhentos israelenses para enfrentar 80.000 egípcios! Mesmo assim, em dois dias, Israel mobilizou seus reservistas e conseguiu fazer retroceder seus adversários, penetrando no território inimigo. Não fosse a intervenção da ONU, o Egito teria uma derrota arrasadora. Depois das mencionadas guerras, a economia israelense cresceu expressivamente. Os investimentos estrangeiros aumentaram. Em 1975, Israel se tornou membro associado do Mercado Comum Europeu, e o turismo se tornou uma das principais fontes de renda do país.
Na atualidade, os conflitos continuam e há uma permanente ameaça: os grupos terroristas que vivem entre os palestinos e os utilizam como escudos humanos. Terroristas árabes, depois que os palestinos foram expulsos da Jordânia, em 1970, passaram a perpetrar repetidas ações sangrentas contra as cidades e colônias agrícolas israelenses, causando danos físicos e materiais, obrigando Israel a adotar uma conduta firme contra seus inimigos. O conflito israelo-palestino, por conseguinte, não é uma batalha do poderoso Israel contra os pobres palestinos, povos árabes que formavam a população nativa da Palestina antes de 1948. A grande mídia mostra apenas crianças jogando pedras contra tanques israelenses. Mas o mencionado conflito é apenas a ponta do iceberg. Existe um conflito muito maior por trás de tudo: o árabe-israelense, que já dura séculos.
O presente relato das lutas e vitórias de Israel evoca sempre a pergunta: “De onde vem a força do povo judeu?” A verdade é que Deus impôs sua mão em primeiro lugar a esse povo. Dali o Senhor queria começar, para prosseguir até à recondução de todos os povos à sua comunhão de paz (Êx 19.5,6). Ao chamar Abraão, pai do povo israelita, Deus lhe disse: “em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gn 12.3). Israel não foi fiel ao Senhor, é verdade, trazendo sobre si duras consequências (Rm 11). Mas a Palavra de Deus diz que “o endurecimento veio em parte sobre Israel, até que a plenitude dos gentios haja entrado” (Rm 11.25). A julgar pelo florescimento dessa nação, nesses 67 anos, o tempo da plenitude gentílica está chegando. E tudo isso evoca a última oração da Bíblia: “Ora vem, Senhor Jesus” (Ap 22.20).
Ciro Sanches Zibordi
Referências
FACHIN, Odília. Fundamentos de Metodologia. São Paulo: Saraiva, 3. ed., 2001.
MERRILL, Eugene H. História de Israel no Antigo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 1. ed., 2001.
TREISTMAN, Marcelo. Estado Judeu Democrático e a Revolução Constitucional — uma análise jurídica (parte I). Disponível em: http://www.conexaoisrael.org/estado-judeu-democratico-e-revolucao-constitucional-uma-analise-juridica-parte/2014-01-17/marcelo. Acesso em: 5 abr. 2014.
WAISBERG, Tatiana. Notas sobre o Direito Constitucional Israelense: a revolução constitucional e a constituição escrita do Estado de Israel. IN: Revista Brasileira de Direito Constitucional. São Paulo: RBDC, n. 11, p. 107-134, jan./jun. 2008.
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Por Ciro Sanches Zibordi
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