Em 2 Crônicas 20.18-22, adoração, louvor e cântico de louvor aparecem exatamente nesta ordem. Embora haja uma interação entre esses elementos, eles não se confundem no culto a Deus. Depois de receber uma mensagem profética, Jeosafá se prostrou, e todos adoraram o SENHOR com o rosto em terra (v. 18). Em seguida, levantaram-se os levitas para louvarem o SENHOR com voz muito alta (v. 19). E, pela manhã, saíram ao deserto, e Jeosafá ordenou cantores para o SENHOR, a fim de que louvassem a majestade santa, com júbilo e louvor (vv. 20,21).
Nos tempos pós-modernos, os conceitos de adorador e adoração estão intimamente ligados ao louvor por meio da música — o termo “adorador” tem sido usado, inclusive, como um título por quem louva ao Senhor cantando ou tocando instrumentos musicais. A rigor, segundo as Escrituras, o adorador não é, necessariamente, um músico ou cantor, mas um servo do Senhor, que reconhece, ao mesmo tempo, a sua própria pequenez e a grandeza do Todo-poderoso (cf. Jn 1.9; At 16.14 — “A woman named Lydia, [...] a worshiper of God”, NASB). As palavras de Jesus em João 4.23,24 evidenciam que são poucos os verdadeiros adoradores, uma vez que Deus está à procura deles.
O que é adorar a Deus? É a expressão máxima de obediência e reverência ao Senhor. O verbo hebraico usado para adorar (sãhãh) denota “adorar, prostrar-se, curvar-se. [...] Aparece pela primeira vez em Gn 18.2” (VINE, p. 31). Adorar é o ato de reverenciar e obedecer a Deus (YOUNGBLOOD, p. 18). O verbo grego empregado no Novo Testamento (proskuneõ) significa homenagear e reverenciar o Todo-poderoso; é “o reconhecimento direto a Deus, da sua natureza, atributos, caminhos e reivindicações, quer pela saída do coração em louvores e ações de graças, quer por ações feitas em tal reconhecimento” (VINE, p. 375). Os termos “espírito” e “verdade”, em João 4.23,24, são muito elucidativos. “Espírito é o oposto do que é material e terreno. Verdade é o que está em harmonia com a natureza e a vontade de Deus. Aqui a verdade é especialmente a adoração a Deus através de Jesus Cristo” (RADMACHER, p. 743). Se todo músico cristão soubesse o que é ser um adorador, de fato, seu louvor através da música, sem dúvida, teria melhor qualidade (Sl 57.7).
De acordo com o Antigo Testamento, a adoração tem uma característica marcante, presente em todas as passagens que a mencionam: a prostração reverente diante do Senhor (Gn 24.26; Êx 12.27; 34.8,9; 2 Cr 20.18; 29.29; Ne 8.6; Jó 1.20: Sl 95.6). Essa mesma característica distintiva — a prostração referente — é reafirmada em todas as seções do Novo Testamento (Mt 2.11; At 10.45; 1 Co 14.25; Ap 1.17). Em Mateus 4.9, vemos que até o Diabo sabe que adoração envolve prostração reverente! Se não houver compromisso com a Palavra de Deus e zelo por parte de pastores, ministros de louvor, músicos etc., as influências filosóficas da pós-modernidade podem tornar nosso culto a Deus mundano (Rm 12.1,2) e nossa adoração, profana (2 Co 6.14-18).
Como será a adoração da Igreja no Céu? Se soubermos como será o culto a Deus no Céu, aperfeiçoaremos, ainda na terra, a nossa adoração. Deus nos revela em Apocalipse, de modo profético, por meio de símbolos, o que acontecerá no Céu a partir do Arrebatamento da Igreja (cf. Ap 1.19; 4.1-4). Jesus mostrou ao apóstolo João como será a adoração dos seus servos no Céu. A marca da verdadeira adoração permanece no Céu: a prostração reverente (Ap 4.10; 5.14; 7.11; 19.4). No Céu não haverá “adoração extravagante”! “A atitude com a qual o ministro começa o culto estabelece o nível da adoração do culto. Cultos iniciados com atitudes irreverentes e levianas, manifestando irreverência pela presença de Deus, quase nunca se eleva acima do nível dessa frivolidade, entristecendo, assim, o Espírito Santo e dificultando um verdadeiro encontro com Deus” (BRIDGES, p. 586). Ao se prostrarem diante do trono de Deus, que palavras os salvos lhe dirão? O Senhor Jesus revelou ao apóstolo João que o conteúdo da adoração coletiva é cristocêntrico (Ap 4.8,11; 5.9,12-14; 7.12; 19.1ss). Usando aqui a linguagem das redes sociais, #FicaADica aos adoradores dos tempos pós-modernos!
O que são o louvor e o cântico de louvor? O louvor é a expressão, a verbalização, a exteriorização, do que pensamos e sentimos acerca do Senhor (Sl 108.1). O comportamento ou o porte — conduta e postura — do adorador revelam o que está dentro de seu coração (At 20.17-24). O louvor não se limita ao cântico, mas abarca tudo o que há em nós (Sl 103.1,2). “Nosso louvor a Deus é o meio pelo qual expressamos nossa alegria ao Senhor pelo que Ele é e pelo que Ele tem feito” (YOUNGBLOOD, p. 490). O que é o cântico de louvor? A primeira menção a um cântico de louvor a Deus está em Êxodo 15.1: “Então, cantou Moisés e os filhos de Israel este cântico ao SENHOR”, o qual está registrado no Céu para ser entoado oportunamente (Ap 15.3). O cântico de louvor é um meio de expressar o louvor. É o louvor com música (Sl 149.1; 69.30) e faz parte do culto a Deus, segundo o Novo Testamento (1 Co 14.26; Ef 5.18,19). Muitos cantam, mas não louvam nem adoram ao Senhor (Am 5.23; Is 29.13). “Cânticos ungidos que envolvam toda a congregação são uma das marcas distintivas da adoração pentecostal” (BRIDGES, p. 589).
Davi foi cantor, compositor, músico, inventor de instrumentos musicais, rei, profeta e um grande promotor, incentivador e preservador do ministério do louvor através da música (1 Cr 15; Ed 3.10; 2 Cr 7.6). Ele liderou um grande coral e uma grande orquestra que tinham três regentes (1 Cr 15.16-24; 25.1-31). O número de componentes chegou a quatro mil levitas (1 Cr 23.25). Seus regentes eram profetas de Deus: Hemã, Jedutum e Asafe (1 Cr 25.5; 2 Cr 35.15; 29.30). Este é o autor dos Salmos 50, 73 e 83. As letras dos cânticos, então, estavam em Salmos (cf. 95.2; 105.2).
O ministério do louvor com música continua nos tempos neotestamentários para a glória do Senhor (Cl 3.16,17). Ainda que dois terços do ministério terreno de Jesus tenham sido dedicados ao ensino e à pregação (cf. Mt 4.23; 9.35), Ele também cantou (Mt 26.30). Mas observe que o culto a Deus não consiste apenas de cântico ou números musicais (1 Co 14.26). É preciso que haja salmos (ministração do louvor), doutrina (ministração da Palavra), bem como revelação, línguas e interpretação (ministrações do Espírito). Igrejas há em que se canta o tempo todo, ignorando-se que o período de louvor deve ser — também — a preparação para a mensagem da Palavra de Deus (2 Rs 3; 1 Sm 10.5; Sl 146.9). O ministério do louvor com música continuará sendo exercido no Céu: “o seu louvor permanece para sempre” (Sl 111.10). O nosso louvor, aqui, é apenas um ensaio para a vida de louvor que teremos na glória celestial (Ap 4; 5; 19).
Ciro Sanches Zibordi
CPAD
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