Lembro-me, saudoso, das primeiras aulas que ministrei na ED, em 1988, quando ainda não havia textos com subsídios para a lição do próximo domingo e videoaulas na grande rede. Aliás, naquele tempo, sequer sabia o que era navegar pela web! Empunhando a minha primeira Bíblia — que hoje faz parte do meu museu particular, aqui em casa — e um exemplar de Lições Bíblicas, falava com certa desenvoltura, para um jovem de apenas 18 anos, a uma classe de juvenis bastante atenta. À época, também não existia smartphonepara desviar a atenção dos alunos.
Não era muito fácil preparar uma aula de ED, no fim do milênio passado. Eu começava a orar e a estudar a próxima lição desde a segunda-feira; e fazia questão de ler cada texto bíblico, procurando encontrar na própria Palavra de Deus as respostas para as principais perguntas que os jovens poderiam fazer. Mas também dispunha de um dicionário bíblico que ganhara da minha mãe, além de uma concordância abreviada, alguns livros especiais — de autores como Antonio Gilberto, Eurico Bergstén, Abraão de Almeida, Severino Pedro da Silva etc. — e um minidicionário da língua portuguesa.
Como os tempos mudaram! Agora vivemos na era digital e fazemos parte da sociedade de informação — uma das marcas dos tempos pós-modernos —, que opera com base numa rede de comunicação organizada. Trata-se da Internet, criada em 1969, a qual cobre todo o globo e é responsável por conectar a world wide web (rede mundial de
computadores, mais conhecida pela sigla www), inaugurada em meados dos anos de 1990. A era digital, tecnológica ou da interatividade é regida pela cibernética, palavra que deriva da Bíblia: do substantivo “piloto” (gr. kubernētēs) e do verbo “governar” ou “controlar” (gr. kubernesis), que aparecem no Novo Testamento (At 27.11; Ap 18.17 e 1Co 12.28).
O que é a cibernética? É a ciência que tem por objeto o estudo comparativo dos sistemas e mecanismos de controle automático, regulação e comunicação nos seres vivos e nas máquinas. E a sociedade de informação? Três conceitos básicos a definem: a convergência midiática, a inteligência coletiva e a cultura participativa. Em outras palavras, não somos mais meros receptores de dados e informações; antes, interagimos, contribuindo para produzir novas ideias e ações. Entretanto, essa necessidade de interação gera dependência da tecnologia. E, como o espaço geográfico está cada vez mais integrado às inovações tecnológicas e informacionais, boa parte da humanidade não vive mais sem a Internet.
Há pouco tempo, ficávamos felizes por haver wireless fidelity (WiFi) em um hotel ou restaurante. Hoje, nos irritamos se não houver esse tipo de conexão sem fio nos mencionados estabelecimentos. Não perguntamos mais: “Aqui tem WiFi?”, e sim: “Qual é a senha do WiFi?” Além disso, muitos de nós já dispõem de um bom plano de 4G para smartphone, haja vista não ser possível viver desconectado. Qual professor de ED, nesses tempos, prepara sua aula sem consultar as fontes disponíveis na Internet? Grande tem sido o impacto da cibernética na educação. Mas, para quem vem do século passado, como este articulista, o que mudou, efetivamente, na preparação e na apresentação das aulas de ED?
Sem dúvida, os avanços tecnológicos modificaram a leitura, a escrita e até mesmo a maneira de pensar, visto que a transição da era industrial para a digital foi — e tem sido — a mais radical transformação da história intelectual, desde a invenção do alfabeto grego. Aceitemos ou não, tais avanços fazem parte do nosso dia a dia. A escrita cursiva, por exemplo, está caindo em desuso. E já há escolas, sobretudo na Europa, abolindo a caligrafia. Como não seria plausível viver desconectado, rechaçando os benefícios da era digital, precisamos conhecer bem os riscos cibernéticos, para que não nos privemos, por causa destes, dos excelentes recursos tecnológicos à nossa disposição.
O professor de ED que sabe usar a Internet não se limita a dar aulas aos domingos, mas interage o tempo todo com os seus alunos. Quem sabe utilizar as ferramentas tecnológicas se torna um professor multitasking (multitarefa), que pode escrever textos ou gravar vídeos e publicá-los em seu blog (ou weblog), nas redes sociais ou compartilhá-los por meio de aplicativos de mensagens, como WhatsApp. A colaboração ou interação entre professor e aluno é uma relação de cooperação que beneficia a ambos. Aliás, essa interatividade não fica restrita a eles, pois pessoas de qualquer lugar do mundo podem participar — exceto quando o assunto diz respeito exclusivamente à classe — lendo, assistindo a vídeos, perguntando, respondendo, fazendo com que haja uma grande simbiose, que resulta em aprendizagem de todos.
Por outro lado, como o professor ganha ferramentas que lhe permitem, entre outras coisas, apresentar conteúdo multimídia a seus alunos e monitorar sua audiência como um todo, ele passa também a acumular uma série de novas tarefas: produzir e alimentar suas páginas e blogs, bem como estar atento a cada mensagem enviada por seus alunos. Além disso, às vezes, pode sofrer ataques pessoais. Como reagir a isso? Há que se ter cuidado com críticas e elogios (Pv 15.1 e 26.4,5), além de saber “responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós” (1Pd 3.15).
Uma coisa é certa: Internet é realmente útil; e não deve ser vista como algo negativo, já que amplia nossas possibilidades de ensino e aprendizado. A CPAD, por exemplo, há três anos, produz as Lições Bíblicas no formato digital, o que é uma excelente ferramenta para o professor e também para o aluno de Escola Bíblica Dominical. Mesmo assim, é claro que precisamos lançar sobre as ferramentas da era digital um olhar crítico e saber como usá-las. Um exemplo, aqui, é o texto para web, o hipertexto (hypertext) — cujo prefixo advém do grego hiper, “acima de”, equivalente do latim super —, o qual é um supertexto na tela, com hyperlinks (ícones, palavras etc.) para outros textos, vídeos, gráficos etc.
Objetivando facilitar a interação e fomentar o aprendizado, as redes sociais vêm aprimorando as antigas listas de discussões e fóruns, acrescentando-lhes um visual mais limpo e elaborado, com diferentes graus de interatividade, acompanhados de recursos audiovisuais, o que torna a experiência de compartilhar informações ainda mais enriquecedora na Internet. O leitor já tem um blog ou um canal no YouTube? Estes são muito úteis para publicação de textos e vídeos, e tudo pode ser organizado em forma de mural ou diário eletrônico.
Blogs são ótimas ferramentas para desenvolver e aprimorar as habilidades de leitura e escrita. Mas há também outros recursos, como Twitter e Facebook. Com o primeiro, você pode publicar frases de até 140 caracteres e compartilhar links para textos ou vídeos; o ideal é usar essa ferramenta em conexão com páginas e blogs. Com o outro, é possível interagir melhor com os alunos. Outrossim, use hashtags, palavras-chave antecedidas pelo símbolo “#”, que geram hyperlinks, como #LicoesBiblicas, #AulaEBD etc., os quais possibilitam que outras pessoas tenham acesso às suas publicações.
Portanto, caro professor, navegar é preciso. Conecte-se! Esteja atento ao que acontece no mundo digital. Interaja com seus alunos; eles vão gostar disso. Mas não se esqueça do principal. Nunca perca o fervor, a espiritualidade. Jamais se afaste do estudo das Escrituras. Se Jesus andasse na terra, hoje, usaria todos os recursos à sua disposição, porém continuaria se retirando, “a fim de orar sozinho” e passar “a noite orando a Deus” (Mt 14.23 e Lc 16.12, ARA). #FicaADica.
Ciro Sanches Zibordi
Publicado na revista Ensinador Cristão número 74
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